O seguinte relato é uma anedota verdadeira. Era um estudante universitário no fim do curso, estava no sétimo ano de engenharia e tinha conseguido um emprego “part-time” no SERCOTEC (Serviço de Cooperação Técnica da CORFO) de Chile. Este emprego me foi dado não por mérito, senão que era uma cota disponível para o PADENA (meu partido: de filosofia socialista democrática + social democrata) que apoiava o governo de Salvador Allende. Meu primeiro serviço foi fazer uma visita a uma empresa recentemente expropriada e que fazia serviços de montagem elétricas. Descrevi a empresa como “abandonada” pelos seus funcionários. Estava apenas com o porteiro (nas mãos dele) mas os antigos funcionários continuavam como funcionários e eram pagos pelo Estado. Faziam trabalho de rua. Pensei na minha inocência que se tratava de trabalho técnico. Depois soube que se tratava de agitação política, a favor de Allende. Fiz um relatório do meu ponto de vista “socialista democrático” (que era a filosofia do meu partido). Relatei as luxuosas instalações dos donos que haviam fugido para Espanha após a expropriação do governo. Também relatei as péssimas condições que estavam as instalações, principalmente as sanitárias dos trabalhadores. Foram várias páginas que impactaram muito meus chefes (todos da UP: Unidade Popular que sustentavam a Allende). Fiquei muito feliz pelo elogio que deram ao meu relatório. Apenas fiquei meio curioso porque um dos chefes disse que meu relatório salvava o prestigio dos trabalhadores ao não relatar nada que desabonasse sua atuação. (Não entendi nada…). Mas fiquei mais feliz quando me informaram que no futuro teria direito a usar uma “Renoleta”(*) do serviço, para fazer meus serviços quando fosse necessário, com gasolina paga por eles.
(*) Renoleta era um veículo da marca Renault muito barato e cuja novidade era que tinha tração nas rodas dianteiras. Era feio “pra burro”, mas a mim me parecia LINDO.